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A vida e o tempo

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Quando criança, achava que na noite do meu aniversário eu crescia um pouco mais. Que a mudança de minha idade era o momento em que meu corpo iria se adequando a ela. Também controlava a passagem do tempo pelas datas significativas. Após o Natal, já esperava com ansiedade a Páscoa, depois meu aniversário, as férias e assim por diante.

Aos poucos entendi que a contagem dos anos de vida era uma convenção cultural e que, na verdade, nosso corpo envelhece de forma incessante. Aprendi que a mudança de ano é a forma contemporânea de contagem do tempo, importante legado que recebemos do antigo calendário romano. Quatro estações climáticas, que correspondem ao período de revolução da Terra em torno do sol, fechando um ciclo de 12 meses.

A identificação numérica de cada ano é a referência para os fatos importantes na nossa vida. Assim, alguns anos tornaram-se marcantes e especiais como aquele em que meu neto nasceu, quando meu filho se formou, o ano em que fiz a viagem sonhada, quando reformamos nossa casa, e também os anos em que ocorreram acontecimentos tristes na família.

Refletindo sobre 2019, concluí pela sua positividade nas questões pessoais e só tenho a agradecer. No âmbito social, o ano que findou foi marcado por palavras e sentimentos expostos onde a intolerância e a falta de empatia se fizeram muito presentes. Isso é motivo de tristeza, mas também de motivação para novas aprendizagens.

A vida se resume a isso: novos ensinamentos no decorrer do nosso próprio tempo. Momentos felizes e presentes é o que nos fazem sobreviver. Até mesmo o ato de planejar o futuro já pode ser a própria vivência de bons momentos.

Em texto publicado numa revista jurídica, o falecido educador Antônio Carlos Gomes da Costa, um dos maiores colaboradores na redação do Estatuto da Criança e do Adolescente, trouxe uma excelente comparação na questão da percepção do tempo. Ele referiu que quando temos 5 anos de idade, o ano leva uma eternidade para passar, pois nessa idade, 12 meses representam exatamente 20% de nossa vida. Quando temos 50 anos, esse mesmo período de tempo parece voar, já que esse isso representa apenas 2% (10 vezes menos) da duração do que já vivenciamos nesse mundo.

Assim o tempo, na verdade, não é feito de meses, dias ou horas, ele é feito de vida. Essa vida que não sabemos quando irá terminar. Por isso, a exemplo das crianças, vamos dividi-la considerando os momentos felizes, com música, brincadeira, comida, carinho e convívio junto àqueles que amamos.

Se a vida é um dom que recebemos, o tempo é o senhor dos destinos. Devemos valorizar o presente, sem deixar de preservar as boas lembranças e a esperança de um futuro melhor, ainda que ele seja incerto.

Como disse Fernando Pessoa, "o que é preciso é ser-se natural e calmo na felicidade ou na infelicidade, sentir como quem olha, pensar como quem anda, e quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre, e que o poente é belo e é bela a noite que fica. Assim é e assim seja".

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